Vacina contra Dengue no SUS: Estratégias e Desafios para o Controle da Doença

Em um marco histórico, o Ministério da Saúde incluiu a vacina contra a dengue no Sistema Único de Saúde (SUS) no final de dezembro, tornando o Brasil o primeiro país a oferecer o imunizante em um sistema público universal. Esta iniciativa visa combater uma realidade alarmante: o Brasil liderou em 2023 os registros mundiais de casos de dengue, com 2,9 milhões de casos e 1.094 mortes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A médica infectologista do Hospital Emílio Ribas, Rosana Richtmann, destaca que a inclusão da vacina é um primeiro passo importante, apesar de não ser uma solução única. “Claro que não é só a vacinação, em especial para um grupo pequeno de pessoas, que vai resolver o problema. Mas é o primeiro passo para a gente poder continuar com novas medidas e, assim que a gente tiver mais vacinas disponíveis, inclusive de outros fabricantes, poder ampliar a vacinação para uma população ainda maior”, afirma Richtmann.

A Vacina Qdenga e seu Funcionamento

Denominada Qdenga, a vacina foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março de 2023 e está disponível em clínicas privadas desde julho do mesmo ano. Desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda Pharma, a Qdenga utiliza vírus atenuado da dengue, incapaz de causar a doença.

A vacina abrange quatro sorotipos diferentes do vírus e é administrada em duas doses, com intervalo de 90 dias entre elas. A avaliação clínica aponta uma eficácia de 80,2%, proporcionando uma proteção de 12 meses após a conclusão do esquema vacinal.

Quem Pode Receber a Vacina e Prioridades no SUS

A Qdenga está aprovada para pessoas de 4 a 60 anos, independentemente de já terem contraído dengue anteriormente. No entanto, gestantes, lactantes, pessoas com imunodeficiência ou em tratamento imunossupressor são contraindicadas.

Para a aplicação pelo SUS, o Ministério da Saúde estabeleceu prioridades, seguindo as recomendações da OMS. A imunização será priorizada para crianças e adolescentes de 6 a 16 anos, considerando a maior mortalidade nesses grupos. O infectologista Álvaro Costa, do Hospital das Clínicas, ressalta que a escolha se deve à limitação da quantidade de doses disponíveis.

A previsão é que o governo receba aproximadamente 5,082 milhões de doses em 2024, com entrega entre fevereiro e novembro. Isso permitirá imunizar até 3 milhões de pessoas, pouco mais de 1% da população brasileira.

Desafios e Perspectivas para o Controle da Dengue

Embora a vacina represente um avanço significativo, os especialistas alertam que não é uma solução única para o país com o maior número de casos de dengue no mundo. O controle do vetor, o mosquito Aedes aegypti, continua sendo crucial.

“A vacina é para a redução de mortalidade. Você vai reduzir os óbitos, mas não vai reduzir os casos”, explica o infectologista Álvaro Costa. A infectologista Rosana Richtmann destaca que o impacto positivo pode levar tempo para ser percebido, dependendo da cobertura vacinal e da obtenção de mais doses de diferentes fabricantes.

A inclusão da vacina contra a dengue no SUS representa um avanço, mas o desafio de combater efetivamente a doença exige uma abordagem abrangente, que inclui educação, controle do vetor e ampliação da vacinação.

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